15 de junho de 2011

Two.

03:30. Estou dirigindo de volta para minha casa com a loucura que Billie me disse martelando meus neurônios. Será mesmo um homicídio como ele dissera? Faz sentido... Para um louco como ele. Mas numa coisa ele tem razão. Eu vi a mão sem os dois dedos, de fato o sangue era recém coagulado. Intrigante. A pergunta que ele fizera meia hora atrás está me perturbando. Por que alguém cortaria os dois dedos e depois se jogaria de uma ponte?
Estaciono o carro na garagem e espero o portão fechar batucando no console do carro, sem vontade de sair para o frio. Entro em casa sorrateiramente esperando que meu cachorro aloprado não acordasse. Tarde demais. Eddie - sim, meu cão tem esse nome por causa do Van Halen - estava a minha espera e veio me cheirar abanando seu rabão esbarrando nas coisas. Subimos para o quarto. Troquei minha roupa e fui para cama, fazendo sinal para que ele subisse. E assim ficamos. Ele com a cabeça no meu colo, debaixo do edredon comigo.
03:50. Ouvi um beep vindo do meu notebook. Billie já mandou o arquivo do cidadão sem morte identificada. Imprimi as fotos e o laudo pericial. Tanto a versão policial quanto, claro, a versão do Billie. Voltei para a cama junto de Eddie com a papelada e espalhei pela cama. Encostei-me na cabeceira, e Eddie ficou sentado olhando para as fotos, como se analisasse comigo.

6 de junho de 2011

A Hospedeira.

Ele dá de ombros. "Nós arranjamos coisa suficiente no caminho para ficarmos quietos por alguns meses. Posso dar umas saídas rápidas se você quiser ficar num mesmo lugar só por um tempo. Tenho certeza de que está cansada de fugir."
"Sim, estou", concordo. E respiro fundo para tomar coragem. "Mas se você for, eu vou."
Ele me abraça com mais força.
"Vou admitir, é assim que eu prefiro. O pensamento de ficar separado de você..." Ele ri baixinho. "Não parece loucura dizer que preferiria morrer? Melodramático demais?"
"Não, eu sei o que quer dizer."
[...]
"Não acho que seja preciso você arranjar uma cama de campanha, ainda não."
Sinto os olhos deles em mim, perguntando, mas não consigo olhar para eles. Fico sem graça então, tarde demais. Não tenho palavras.
"A gente fica até a comida acabar, não se preocupe. Já dormi em coisas piores do que este sofá."
"Não foi isso que eu quis dizer", falo, ainda olhando para baixo.
"Você fica com a cama Mel, disso não abro mão."
"Tampouco foi isso o que eu quis dizer." A frase mal chega a ser um sussurro. "O sofá é mais que suficiente para Jamie. Vai demorar um tempão até ele ficar maior. Eu podia dividir a cama com... você."
[...]
"Se eu tivesse de escolher alguém, qualquer um, para ficar perdida num planeta deserto, seria você", sussurro. O sol entre nós ardeu mais quente. "Sempre quro estar com você. E não só para... e não só para conversar. Quando você me toca..." Ouso deixar meus dedos roçarem lentamente a pele macia de seu braço e sinto chamas fluirem das suas pontas agora. Os braços dele se apertam à minha volta. Será que ele sente o fogo? "Não quero que você pare." Quero ser mais exata, mas não consigo encontrar as palavras. Tudo bem. Já fiz bobagem suficiente admitindo o que admiti. "Se você não se sente do mesmo modo, eu compreendo. Vai ver não é o mesmo para você. Tudo bem." Mentiras.
"Oh Mel." suspira ele em meu ouvido, puxando meu rosto para encontrar-se com o dele.
Mais chamas nos lábios dele, mais ardentes do que as outras, calcinantes. Não sei o que estou fazendo, mas ele não parece se importar. As mãos dele estão em meus cabelos, e meu coração está prestes a entrar em combustão. Não posso respirar. Não quero respirar.
Mas os lábios dele vão para as minhas orelhas, e ele segura meu rosto quando tento encontrá-los outra vez.
"Foi um milagre - mais que um milagre - quando encontrei você, Melanie. Agorinha mesmo, se me dessem a escolha entre ter o mundo de volta e você, não seria capaz de abrir mão de você. De salvar cinco bilhões de vidas."
"Isso é errado."
"Muito errado, mas é verdadeiro."
"Jared", sussurro. Tento alcançar seus lábios de novo. Ele se afasta, parecendo ter algo a dizer. O que mais pode haver?
"Mas..."
"Mas?" Como pode haver um mas? O que poderá vir depois de todo esse fogo, que comece por mas?
"Mas você tem 17 anos, Melanie, eu tenho 36."