13 de maio de 2011

10/03/11.

Estou aqui, na verdade, para descrever o que aconteceu no dia 10 para o dia 11 de março de 2011. O que para alguns pode ter sido uma maravilhosa quinta feira num barzinho. Para muitas pessoas, 90% de Pomerode, foi uma tragédia. Um dia que queríamos esquecer para o resto da vida.

Antes de tudo: havia um veleiro estacionado no gramado do vizinho que estava parado há anos.
20:15. Água na geral. Ligo para minha mãe vir pra casa, antes que ela não entre. Pois nem precisei. Ela me avisou que estava vindo. Chuva. Muita chuva. Chuva grossa, fria, de congelar. Mas quem liga? Enquanto você está levantando as coisas dentro de sua casa e preocupando-se com seus oito cachorros. Quem liga para a chuva gelada? Minha mãe e eu colocamos as comportas nos dois portões. A água já se avançava para dentro. Água? Lama? Os dois? Sim, os dois.
Um pequeno problema: meus cães são racistas. Os pretos não podem ver os caramelos que dá morte.
21:15. Os cães pretos na sala, em cima do sofá e mesa. Os cães caramelos na cozinha em cima da mesa. Água nos nossos joelhos. Meu irmão apareceu com um amigo, levantaram a geladeira e ele tirou o carro da minha mãe da rua e colocou num morro.
De repente, o pavor. Como se tivesse aberto uma represa, aquela água subia e subia. Eu, mãe e OITO cachorros. E meu irmão não voltava. Água acima da cintura!
- Temos que sair daqui – mãe falou. Mas como? Como?! Se eu pegasse dois cães, três e minha mãe três, sobrariam dois. Não conseguiríamos. Eles nadavam mas não nos seguiam, tinha que catar. Chegamos ao portão. Mãe foi empilhando os cães no muro que faltava uns 5cm para a água alcançar. O menor, Joey, caiu na água algumas vezes. E de repente grita o policial (Delegacia Civil é em frente a casa): “To com um teu aqui! Traz eles aqui.” O Joey. O Joey foi parar do outro lado da rua. Não me pergunte como. Pequeninho, patas pequenas, naquela correnteza. Naquele rio. Milagre, só pode. E assim fizemos, levei o grandão que estava comigo e deixei lá, nos bancos que estavam secos, ainda. E voltei para pegar mais dois. Chorando. Apavorada. Em seguida veio minha mãe com três. Laika, a gorda, nadou de volta para casa, achando que teria segurança. Minha mãe voltou para pegá-la. Olhou para nós, na Delegacia. A água chegava. Subia de uma forma destruidora. Minha mãe viu o veleiro. É, aquele veleiro que mencionei. Estava a deriva no terreno. E ela não pensou duas vezes, nadou até lá com a cadela gorda num braço. Chegou no veleiro, abaixou a escadinha e veio. Veio NADANDO apenas com as pernas! Pois não dava mais chão. Deu cãibras nas pernas e ela falava “nós vamos conseguir, Laikazinha. Vamos conseguir.” E conseguiram, chegaram lá onde estávamos. Fomos colocando os cães dentro. Meu irmão, finalmente, chegou. Com os braços erguidos com celular, chave de carros numa sacola. Subi no veleiro e fiquei com os cães, abraçando-os. Desesperada, trêmula. Minha mãe e meu irmão puxaram o veleiro até o pé do morro, onde não tinha mais água. Descemos os cães. Minha mãe sentou no chão e ficou. Pedimos para a vizinha amarrar o veleiro, para não ir embora. Começamos a subir o morro, para ir à vó, a última casa do morro.
Reboquei o Mopy no colo porque não se mexia de tanto medo. Pesado, gordo. De onde tirei forças? Não sei. De onde a mãe tirou forças? Não sei muito menos. No caminho, dois dos cães se perderam. Chegamos na vó. Ela ficou pasma. Deixamos os cães na garagem. Subimos. Tomamos uma ducha.
02:00. Quem conseguia dormir? Só pensava no Dany e na Laika, que se perderam. E tentava não chorar para não desanimar minha mãe mais ainda. Deitamos e nos abraçamos. Era quase 08:00 e acordei. Sem sinal de mãe. Descobri que ela já havia
descido para procurar os cães. Tempo depois, eu tomando café na varanda e aparece minha mãe com a Laika e o Dany. Chorei. Chorei de emoção e fui correndo abraçá-los. E a mãe começou a contar que eles estavam lá em baixo, tentando voltar para a casa, mas a comporta impedia. Dany cheio de lama nas patas. Laika com lama até a metade do corpo. Demos um banhozinho nos dois.
Uma semana depois. O Mopy começou a apresentar hematomas vermelhos no corpo. E a sangrar pelo nariz, pinto, anus, gengiva. Levamos num Hospital Veterinário em Blumenau e lá ele ficou... Internado. E... Nos deixou. No mesmo dia fomos lá ver ele. Estava inchado devido ao corticóide. Mas estava sentadinho, tomando água. Um bom sinal, não? Não. Descartaram Leptospirose e Doença do carrapato, devido à enchente e os sintomas batiam. Então, desconfiaram de Trombocitopenia. E se foi. Nosso anjinho foi para o céu com os outros. Uma parte de mim se foi... De novo. God bless you, Mopy. (26/03/11).

Não me pergunte como eu viveria se nós não conseguíssemos salvar os cães. Deveria estar de molho na cama ainda. Sem coragem de enfrentar o mundo.
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Aproveito essa postagem também para demonstrar meu desgosto por Pomerode. Pessoas caridosas se matam para cuidar de animais abandonados e por causa de LATIDOS, fazem essa injustiça com a AMA Bichos? Se não querem latidos, tratem de punir essas pessoas que ABANDONAM e MAL TRATAM esses pobres animais indefesos, que nada fazem para a sociedade, além de trazer muito amor e felicidade.

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